Reportagem de capa
NO MEIO DO CAMINHO
TINHA UMA ÁRVORE...

Era um majestoso pau-ferro. Foi ele que motivou a compra desta casa, na época uma acanhada e escura construção de 150 m2. Hoje, reformada, ganhou um pavimento a mais e um acabamento tão delicado quanto o da belíssima árvore.

Da calçada até os degraus que levam à entrada social, o piso é de um mesmo material: o tijolo comum, que ganhou requinte com o assentamento geométrico das peças.

Um pavimento a mais foi construído, exclusivamente para abrigar a parte íntima. Da casa original, apenas a cozinha e o living permaneceram no mesmo lugar. O piso superior, que anteriormente não existia, ficou reservado para duas suites e closet.

Amor à primeira vista. Foi o que sentiu a futura proprietária desta casa. Quando viu o pau-ferro. uma arvore que reinava soberana na calçada de uma rua tranquila. em um dos bairros mais nobres da capital paulista. Do encanamento com a beleza da árvore à decisão de comprar a propriedade, se passaram poucos minutos. Só então ela entrou na casa recém-adquirida para conhecê-la e não gostou nada do que encontrou: muito mal distribuída. a casa térrea tinha 150 m², apenas dois quartos. banheiro, áreas social e de serviço, além de ser também muito escura, Negócio fechado, o passo seguinte foi chamar o arquiteto António Scarpa para promover uma senhora reforma que, entre tantas modificações. incluía a construção de mais um pavimento. O arquileto poderia trabalhar com total liberdade desde que cumprisse três exigências: a parte social da casa deveria crescer e o setor intimo, menor, ficaria completamente isolado e privativo. Além disso, a proprietária queria a iluminação natural trazendo claridade para dentro da casa. Scarpa começou seu projeto pela árvore, é claro. Incorporado à fachada- o pau-ferro norteou todo o trabalho do piso, desde a calçada ate os degraus da entrada social, com um mesmo material: o tijolo comum. assentado de modo a formar desenhos geométricos. Outro caminho foi pensar numa casa relativamente pequena (220 m² construídos no terreno de 380 m). mas detalhada como uma jóia preciosa. Aos poucos, surgiram na prancheta as soluções para os desafios impostos pela proprietária.

Janelas planejadas estrategicamente e cores claras dão leveza aos ambientes

Para atender o desejo de privacidade total na área íntima, ergueu um segundo pavimento destinado a abrigar somente duas suítes completas, com closet. Já o térreo, onde apenas o living e a cozinha permaneceram nos seus lugares originais, foi totalmente remodelado. Ampliado- esse espaço viu aparecer um living. salas de jantar, íntima e de lareira, terraço, jardim, além de cozinha, despensa, lavanderia, dependências de empregados e garagem para os carros- O capítulo iluminação natural foi resolvido por meio de várias soluções. A que mais se destaca, no entanto, é o pé-direito de 6metros no living, com generosas janelas no alto.
Cuidadoso como requer uma jóia. o acabamento apostou nas cores claras, inclusive no piso de pau-marfim que reveste todos os ambientes, com exceção da cozinha e das áreas de serviço.

As paredes- tanto internas quanto externas, foram pintadas de branco e amarelo-claro. Duas cores estão presentes na delicada fachada, onde não faltam pequenos detalhes como a cimalha - saliência mais alta das paredes

O pé-direito de 6 metros, as janelas na parte mais alta, o piso de pau-marfim e as paredes pintadas de amarelo-claro garantem claridade e luminosidade natural para o living.

A entrada de luz de natural também privilegia a cozinha, que dá para o jardim. O piso quadriculado,de cerâmica branca e preta, amplia visualmente esse espaço onde os beirais do telhado são assentados - toda trabalhada em cimento pintado de branco, formando graciosas molduras. A janela. com forma de losango, ilumina e ventila o hall de circulação do andar superior e ainda leva a claridade até o hall de entrada, no térreo. Assim, após dez meses de obra- a um custo de 130 mil dólares- a casa ficou como a proprietária desejava e sua árvore merecia.

Arquileto:
António Scarpa
Construtora:
R H P Engenharia
Engenheiro responsável:
Roberto Hornink
Reportagem:
Maria Conceição Weniel e Marcha Naspitz
Fotos: João Àvllla

Reportagem de capa da revista ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO - Ano 10 - nº 11 - Novembro de 94